Desabafo
Poderia dizer que não custa tanto encontrar as respostas como escolher as perguntas. Que respostas (já) as há. E muitas. Para todos os gostos, em diversas receituários existenciais, em modelos e cosmovisões várias, diversas entre si e/ou teimosamente contraditórias; ao longo dos tempos e sociedades. Tal afirmação parece, mesmo, de indiscutível banalidade. E no entanto... Retorna-se, sempre, às mesmas inquirições, procuram-se (re-investe-se em) velhas questões sob novas perspectivas (de abordagem), nem que seja com o olhar da moda. Convém sempre recorrer a Borges:
É, aliás, essa perplexidade que consubstancia a obscenidade de morrer. Porém, ao contrário de Borges, não digo da morte. A morte terá o seu lugar na ordem das coisas (poderia ainda recorrer a tantas outras impressões borgianas...). Falo da predicação ontológica de morrer ... ou, jocosamente, de morrer enquanto verbo transitivo por excelência ... Mas, o morrer é estranho. O deixar de ser. Depois de tudo. De tanto pensar e agir e anelar; emoções, consciência(s) e metacogniscência. Laços (emocionais) e direitos; como, ainda assim, se pode morrer, sem, pelo menos, saber o que vem depois ou foi antes? Mais, serão estas as perguntas? Serão estas as perguntas que importam? Desde a ordem do universo ao nosso lugar infinitesimal nesse todo (ou neste todo humano), a questionação escatológica salta, resvala, numa procura ontológica. Heidegger terá as respostas, uma aproximação, pelo menos? Colocou bem o problema? Embora procurar um caminho seja, já, um caminho, será esse o caminho, ou, será esse o único caminho? E, no seio destas Grandes Questões, onde ficam as pequenas? O dia-a-dia; o minuto-a-minuto da vida (e o tempo? ? outra grande questão). Será a alegre ceifeira, de facto, mais feliz? |
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